terça-feira, 10 de maio de 2011

Muito Interessante.. A Ciência Do Que Nos Irrita

"Ciência da irritação" explora os fenômenos e comportamentos que mais nos incomodam

Pesquisadores correram o mundo em busca de padrões para entender por que certas coisas nos tiram do sério

 
 Pessoas com audição perfeita relatam que são diariamente levadas à loucura em decorrência de meios-tons indefinidos que não se adaptam ao comando de seu cérebro

 
Se existe algo que eu não suporto é alguém chutando o encosto da minha cadeira. Ou alguém cortando as unhas em público. E também não gosto do barulho que faz quando alguém masca chicletes. Ah, e também detesto o som ensurdecedor da vizinhança, ou pessoas que se atrasam com frequência, além de outros 20 ou 30 probleminhas que tenho com o mundo em geral. Mas vejamos você.
Você se enfurece tanto quanto eu com os alarmes de carro que nunca param, com unhas arranhando a lousa e com um pernilongo zunindo em torno do seu ouvido? As prolongadas birras de uma criança são capazes de te levar à loucura? Em outras palavras: certas coisas aborrecem especificamente uma pessoa, outras atingem toda espécie, e algumas, como o pernilongo, chegam a ser uma tortura até para os demais mamíferos.
Se alguma vez já existiu um tópico de pesquisa para os cientistas estudarem por que somos quem somos, a irritação certamente é um deles. Por essa razão, conforme Joe Palca e Flora Lichtman esclarecem em sua pesquisa incrivelmente interessante relatada no livro Annoying – The Science of What Bugs Us (Aborrecimento – A Ciência Do Que Nos Irrita, em tradução livre, sem edição no Brasil), ainda existem mais perguntas do que respostas nos dois estudos sobre o que incomoda as pessoas.
Palca é correspondente científico da NPR (National Public Radio, a rádio pública americana), e Lichtman é editora do programa Science Friday, da mesma rede. Os dois percorreram o globo na tentativa de tratar do assunto. No final das contas, eles conseguem cobrir todas as partes do terreno: desde a física e psicologia até a estética, a genética e o tratamento para os miseráveis aborrecimentos.
O que é irritação? — Formular uma definição plausível de irritação, ou aborrecimento, enfim, algo que desagrade e cause aversão, é um desafio persistente para os pesquisadores. Alguns a consideram a forma mais fraca da raiva, apenas uma fúria diluída. Outros falam de traços de repugnância (um convidado que insiste em arrotar à mesa do jantar), desagrado (um concerto musical sem tons definidos) e até pânico (aquela reação visceral de desespero ao ver uma unha arranhando a lousa).
E assim surgem algumas constantes. Aborrecimento é desagradável. Ele segue um padrão, porém imprevisível. Ele certamente irá acabar em algum momento, mas não se sabe quando. Na verdade, ele não é prejudicial nem perigoso, mas geralmente carrega algo que seja.
Em suma: ele entra de repente na sua cabeça e assume o controle. Se for um som, ele ocupa o suficiente da sua atenção a ponto de interferir em outros pensamentos. Se estiver ligado a uma situação, ele o afasta de onde você deseja estar (a receita informa que se usem dois ovos e você só tem um). E se for uma pessoa atrasada (de novo!), ele afeta das duas formas.
Aborrecimento sonoro — Como muitos dos aborrecimentos são auditivos, acaba sendo particularmente fácil estudar os sons. Certas vezes, o contexto cria o problema, como um "semidiálogo" de uma conversa pelo celular: nosso cérebro é capaz de ignorar uma conversa inteira, mas parece programado para prestar atenção somente a meia conversa. Algumas vezes, o aborrecimento é o próprio som. Um dos grupos de pesquisa apontou que frequências intermediárias, algo entre um estrondo e um agudo, incomodam mais as pessoas do que um dos extremos. A reação ao som pode ser algo cultural, mas às vezes não: até mesmo membros de uma tribo africana isolada apresentaram sinais de incômodo ao ouvir música desafinada.
Alguns sons parecem incomodar por natureza, como o choro de um bebê. Um dos pesquisadores sugeriu que as unhas arranhando a lousa nos incomodam porque o nosso mesencéfalo primitivo ouve nelas as lamentações de um primata.
Além disso, algumas vezes o problema está mais nos ouvidos do que no próprio som. Pessoas com audição perfeita relatam que são diariamente levadas à loucura em decorrência de meios-tons indefinidos que não se adaptam ao comando de seu cérebro.
Gente chata — Palca e Lichtman sempre se divertem quando o assunto são os grandes repositórios de aborrecimentos: os colegas. Existe algum protótipo para uma pessoa que incomoda por natureza, parecendo um alarme de carro com duas pernas? Sim, obviamente, existem muitos.
Existem pessoas que apresentam “hábitos estranhos, atos impensados e comportamentos inconvenientes” – e nós somos incomodados por esses que violam as regras sociais. E aí existem as infindáveis variações sobre a personalidade desastrosa. Curiosamente, em primeiro lugar na lista de traços que tendem a incomodar os outros, está aquele de ser constantemente incomodado. Ele se torna chato e arrogante.
E o que dizer sobre a nossa irritação pessoal, a esposa que foi tão encantadora no início da relação e hoje é exatamente o oposto? Estudos indicam que precisamente esses traços que um dia foram atrativos começam a causar repulsa. Antes ele era carinhoso, agora ele é frio. Antes ela era adorável, agora é sufocante. Nesse caso, o problema parece estar relacionado à dosagem.
Sinal de doença — Pessoas que se incomodam ao ponto da irritabilidade devem passar por exames médicos: certas doenças neurológicas começam assim bem antes de outros sintomas aparecerem. Para pacientes nesse estado, antidepressivos podem fazer milagres.
Para outras vítimas, as infelizes, existem métodos mais rápidos. Assim, quando você chutar minha cadeira, posso fingir que sou japonês, pois parece que o idealismo asiático de subjugação do 'eu' para o grupo resulta em menos aborrecimento. Eu poderia tentar mudar minha expectativa de que, quando sentada tranquilamente, não fosse sacudida feito uma vara de pescar, pois parece que, entre macacos de laboratório, expectativas contrariadas são a principal causa do aborrecimento. Ou posso apenas me virar, olhar para você e pedir gentilmente que pare com isso. Assim ficarei feliz. E você é quem ficará incomodado.

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